Encena II – Desvendando o Processo
Por Andrea Santiago
O
projeto Encena - Desvendando o Processo foi para sua segunda edição mostrando, mais uma vez, os
processos criativos de grupos de teatro. A intenção do evento é que grupos
apresentem parte do seu processo de criação e/ou linha de trabalho que
resultará numa montagem e, em troca, possa ter um feedback do público sobre o
que foi mostrado. No dia 18 de Outubro, seis grupos se apresentaram, na Galeria
TAC, na Lapa.
O
primeiro, ‘Lamento e Liberdade’, de
Brunno Vianna, conta a história de duas escravas no Período Regencial
Brasileiro. Foi uma cena curta, de duas atrizes negras que representaram com
muita autoridade e imbuídas do texto - do próprio diretor - as agruras da vida
da época, as brincadeiras entre os seus e o linguajar. A formação acadêmica de
Brunno Vianna certamente foi fundamental para a criação do texto mas, além
disso, a pesquisa de documentos, música e pontos cantados por escravos e
referências propostas por ele e executadas por Cláudia Leopoldo e July enriqueceram
o pouco que pudemos ver.
Cia. Teatro da Estrutura em debate (Foto Karine Menezes)
Em ‘Vem!’, do diretor Marcio Zatta, também
criador do Teatro da Estrutura, método onde a verdade do ator mais a verdade da
personagem literária vão em busca da verdade absoluta para a criação cênica, os
atores se ordenam de forma geométrica no palco. Talvez seja essa a ideia do
espetáculo: a exposição do ser humano transformado em maquinário em apenas ser
mediador do trabalho, a expressar desejo, instinto e puro caos da
contemporaneidade sem, no entanto, senti-los de fato. Uma cena limpa, com
atores fisicamente preparados e com movimentos precisos que se coordenavam em
intervalos ou com simultaneidade. Artaud e Grotowski aparentes como processos
atorais e Meyerhold e Laban na movimentação de cena – embora esses dois últimos
não tenham sido inspiração direta para o grupo. Três atores e seres humanos (Carol
Mattos, Diego Sant’ana e Otto Caetano) movidos pela urgência do mundo atual em
contraponto com a Mulher Transcendental (Helen Maltasch), uma ‘personagem quase’ mítica e impossível de
ser atingida enquanto estivermos imersos na pressa atual. A intensidade e
tensão incômoda da primeira parte foi marcada pela ausência de texto, excesso
de movimentos e músicas em volumes exagerados. Esse mal estar pertinente à cena
foi quebrado pela fala da personagem mítica que, somente pela sua
caracterização, não precisaria de texto, mas apenas de gestos e intenções
corporais que remetessem ao avesso do que nossos olhos estavam acostumados. Foi
bonito de se ver. Mais seria se apenas se compusesse com imagens e música, já
que a intenção é fazer com que no palco nos vejamos e, assim, reconheçamos a
nós mesmos como seres ‘mudos’ nessa sociedade.
Leia a segunda parte: http://www.processoencena.blogspot.com.br/2012/11/cobertura-181012-1-dia-parte-ii.html
Encena II – Desvendando o Processo, mostra de processos criativos em artês cênicas, foi realizada nos dias 18 e 19 de outubro na Galeria TAC (Centro, Rio de Janeiro - RJ), com organização da GMALTA Produções e da Oz Comunicação e Gestão de Pessoas. O apoio institucional foi da Galeria TAC e da Oz Comunicação e Gestão de Pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário