Encena II – Desvendando o Processo
Por Andrea Santiago
‘Eu me amo. Eu me aprovo.’, texto
e direção de Vinícius Arêas. Sim, eles se amam e se aprovam. A comédia escrita
por esse jovem autor admite drama, comédia, suspense, terror e o Grupo Atorais,
amigos formados pela Univercidade, estão em cena se aprovando como uma unidade
para mostrar que o trabalho em grupo é e pode ter um resultado concreto e de
qualidade. O texto é feito a partir de temas atuais e suas variações, às vezes
trágicas, às vezes surreais, mas sempre pelo ponto de vista do humor - como o
próprio autor diz, humor-negro. A dramaturgia ágil, quase sem pausas, é levada
ao palco por atores afiados e com relações bem estabelecidas com seus
personagens e o outro. Mesmo que seus papéis sejam do porteiro rabugento à
psicóloga (assassina) e ao terapeuta lifecoach.
E lembrando que a comédia vem pelo humor do texto e também pelas peculiaridades
absurdas das situações mas que sem dúvida são reconhecíveis pela plateia. Com
Dayanna Lima, Bruno Dal Ponte e Vinícius Arêas.
Em "Não sou feliz, mas tô tentando...", de Bárbaro Heliodoro, Filomena, uma senhora mineira
narra episódios de seu passado enquanto aguarda a chegada de seu neto. Dona
Filomena tem uma interlocutora, uma boneca, com quem fala sobre, entre tantas
coisas, a época em que morou com sua filha e seu genro no Rio de Janeiro.
Marcos Andrade incorpora a senhora com sotaque mineiro e linguajar bastante
informal e na estrutura do texto, percebe-se uma cronologia e linha de
narrativa da história, mas que se perde na encenação e em apartes. Talvez em
frases longas que diluem seu significado e afrouxam a narrativa. Dois atores representam
o genro – em poucas inserções ilustrando partes da história de Filomena – e o
neto que retorna para casa da avó. Renato Correia e Márcio Nogueira completam o
elenco.
Teatro
Curupira, com ‘Um samba para Plínio
Marcos’. Nessa apresentação, embora seja uma peça ainda em acabamento, a
escolha foi mostrar como chegaram a cenas já prontas a partir de estudos e
pesquisas do vocabulário corporal das duas atrizes. O texto é baseado em Dois perdidos numa noite suja, de Plínio
Marcos e a cena, diferente do que estamos acostumados, é apenas um reforço de
que textos não precisam e nem sempre requerem atuações e concepções realistas
ou ilustrativas de suas escritas. Além do processo em dupla, a direção de Ronaldo
Ventura é feita de São Paulo. As diretrizes da cena e dos ensaios e do
andamento da criação são dadas por ele e elas, Ana Cecília Reis e Caju Bezerra,
aqui no Rio, se comprometem a trabalhar física e concretamente exercícios
corporais de ação e reação, equilíbrio e desequilíbrio, direções, sentidos;
oposições não apenas do corpo, mas de papéis do opressor-oprimido, impositor- ameaçado;
alternâncias de queda e suspensão. A dupla cria partituras físicas e as
desenvolve e aperfeiçoa de acordo com o trecho do texto, com cadências musicais
e números circenses. O que podemos ver como espetáculo é uma cena preenchida de
pesquisa e resultado de um processo investigativo. Isso fica claro, justamente,
por essa inadequação entre o gesto: corpo e movimento na relação das duas e a
relação com o material dramatúrgico. O que poderia ser injusto ao texto ou ao
entendimento de uma obra dramatúrgica a partir da encenação se esvai numa cena
onde, além de uma obra montada, temos escancarado o processo de chegada até lá.
Mas em Um Samba para Plínio Marcos,
isso não é reflexo de precariedade ou material de ensaio mal escondido, mas ao
contrário, de expor e deixar a ser apreciado o que era experimentação e se
torna real e concreto aos nossos olhos quando vemos em cena as escolhas feitas
por elas, assim como as escolhas que elas deixaram de lado.
Para finalizar a noite, Ciça Ojuara e Rodrigo Guedes, em Breve – um pequeno conto de Romeu e Julieta, de Rodrigo Brand, transpuseram Shakespeare para a atualidade. O conteúdo temático permaneceu, mas
sua estrutura dialógica e formalidade deram lugar às gírias e relações afetivas
de jovem cariocas. A cena é a discussão entre o casal, pois ele, Romeu, sumiu
por dias enquanto Julieta, apaixonada, tenta em vão mandar mensagens no
celular, deixar recado e nada. A reconciliação de Romeu e Julieta acontece com
a ajuda do público que interage com os atores. Como todo romance, final feliz; o casal faz as pazes e vai curtir uma noite na Lapa.
Leia a primeira parte:
http://www.processoencena.blogspot.com.br/2012/11/cobertura-181012-1-dia-parte-i.html
Encena II – Desvendando o Processo, mostra de processos criativos em artês cênicas, foi realizada nos dias 18 e 19 de outubro na Galeria TAC (Centro, Rio de Janeiro - RJ), com organização da GMALTA Produções e da Oz Comunicação e Gestão de Pessoas. O apoio institucional foi da Galeria TAC e da Oz Comunicação e Gestão de Pessoas.
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